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Channel: Comentários sobre: Aborto: "saúde pública"?
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Por: Guilherme

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Ao meu ver, a legalização do aborto funcionaria quase como a política de cotas em universidades. É basicamente “tapar o sol com peneira”. É fato que a quantidade de mulheres que praticam aborto no Brasil, mesmo sendo ilegal, é grande. E sim, abortos feitos em clínicas clandestinas ou até mesmo em casa, sem garantias médicas e com risco de falta de higiene, são uma ameaça a saúde. É fato também que muitas crianças são colocadas no mundo sem as mínimas condições de serem criadas de maneira saudável e que, nessas condições, quase sempre ficam fadadas a um destino ingrato, propensas à criminalidade ou a uma vida cheia de dificuldades. Famílias desestruturadas, problemas financeiros, mães jovens demais, mães solteiras, homens e mulheres que fogem de suas responsabilidades… Enfim, vários são os motivos que levam uma mulher ou um casal a não desejarem uma gravidez acidental e pensarem em aborto ou até mesmo chegarem às vias de fato.

Da mesma forma, é fato que pessoas das classes mais baixas não conseguem ter acesso às universidades, principalmente negros que, além de comporem a maior parte da população pobre (reflexo de uma condição histórica), ainda são vítimas, em maior ou menor grau, de preconceito racial.

Para ambos os problemas, o Estado (no caso do acesso à universidades) e grande parte da sociedade acabam seduzidos por medidas pragmáticas e utilitaristas, as tais “ações afirmativas”. Dessa forma, relegam à questões menos importantes as causas dos problemas e tentam solucioná-los atacando suas consequências. Da mesma forma que um médico quando prescreve apenas um analgésico para um paciente que reclama das dores de uma infecção. No caso do acesso à universidade, tenta-se corrigir um problema crônico admitindo-se a incapacidade de resolver a causa dele. Ou seja, ministra-se um analgésico para mascarar os sintomas e pronto, problema resolvido! Melhorar o ensino básico dá muito trabalho, então pra quê se preocupar com isso?

A legalização do aborto funciona no mesmo sentido. Se o que motiva uma mulher ou um casal a praticarem aborto é muito difícil de tratar, então vamos reduzir danos e aplicar um analgésico. Dessa forma, fim de papo, problema resolvido! Não importa se existam pessoas que não tenham condições financeiras para criar um filho, não importa se adolescentes estão sendo mães e pais cada vez mais cedo incentivadas por uma erotização crescente dos jovens, não importa se o nível de escolaridade é baixo e não há consciência a respeito do sexo e das consequências da prática irresponsável dele, não importa se homens e mulheres fujam de suas responsabilidades em nome de suas “liberdades individuais”… Nada disso importa porque dá muito trabalho para resolver. Então o caminho mais fácil é o pragmatismo. Bora liberar geral o aborto e aí tudo pode ficar como está.

Aplicamos um analgésico para nossas próprias dores de cabeça.


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